quarta-feira, 24 de junho de 2015

VIDA URBANA

Lei do silêncio, heroína ou vilã?


Projeto de lei que aumenta os níveis de ruídos no Distrito Federal levanta polêmica entre defensores da música ao vivo em bares e restaurantes e moradores. Mas a polêmica vai além do comércio. O barulho rotineiro da cidade já é motivo de reclamação

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA

Nas últimas semanas, a possível alteração na Lei do Silêncio deixou o Distrito Federal dividido. Como a proposta de mudança é uma reivindicação de donos de bares, músicos e comerciantes, a discussão levou ao antagonismo de dois grupos: os que defendem a música ao vivo e os que desejam manter o sossego absoluto. O debate, no entanto, é mais amplo. O problema do barulho extrapola a questão da vida cultural de Brasília. O brasiliense reclama insistentemente — e pelas mais diversas razões. Dos cultos nas igrejas ao salto do vizinho, quase tudo é motivo de incômodo.
No Guará, por exemplo, a 14 km do centro de Brasília, o motivo é duplo. Cerca de 5 mil pessoas em três condomínios na QE 40 enfrentam o problema da zuada. Por lá, a coleta de lixo durante a madrugada é o maior transtorno. “São vários conteineres e o solavanco das maquinas faz um barulho ensurdecedor, isso às duas, três da manhã”, reclama o síndico do residencial Sports Clube, Alex Sandro Souza. A poucos metros dali também funciona uma igreja evangélica. O ruído excessivo dos cultos virou alvo de queixas. “Formalizamos nos órgãos fiscalizadores, mas não adiantou nada”, queixa-se o representante do condomínio Maestri, Cristiano Leite Macedo.
Até a última semana, segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), foram 700 queixas, contra 736 denúncias durante todo o ano passado. Comércio, como os bares e restaurantes, e ruídos domésticos, como o arrastar de móveis, lideram a lista de reclamações. Apesar disso, a parte mais visível dessa história é o fechamento e a multa de alguns estabelecimentos, sobretudo de bares. De janeiro a maio, 155 foram multados. Por isso, os comerciantes decidiram encabeçar esse movimento pela mudança da lei.
A discussão ganhou as ruas e no site do Correio os internautas se mostraram favoráveis à modificação: 57% disseram sim à mudança na legislação, ante 43% contrários. Caso o projeto de lei 445/2015 de Ricardo Vale (PT) seja aprovado, haverá aumento significativo do nível de ruído. Com a nova regulamentação os níveis passariam de 55 decibéis (dB) para 70 dB em áreas residenciais e de 60 dB para para 75 dB em comerciais locais.
“Não se pode permitir mais barulho do que já existe. Temos vários problemas relacionados a isso. A nova lei vai trazer ainda mais aborrecimento”, avalia a sub-síndica do residencial Olimpyque, Marina Coutinho Afonso, do conjunto de condomínios da QE 40 do Guará II. A administradora do Setor de Diversões Sul, o Conic, Flávia Portela, também é contrária à mudança da lei. “Estão criando uma briga entre saúde e cultura. É preciso mais estudo para fazer uma regulamentação dessas. Não houve critérios para redigir esse projeto”, critica.
O petista Ricardo Vale, autor do projeto, defendeu na última audiência pública na Câmara Legislativa para debater o assunto, em 16 de junho, que a Lei atual não atende a demanda e a realidade atual da cidade. Artistas, produtores culturais e comerciantes defendem a regulamentação. Na última sexta-feira, mais um bar foi fechado por exagerar na emissão de ruídos. “Essa foi a segunda aferição. Fui multada em R$ 20 mil. Tenho uma política de boa vizinhança, estou numa área mista. É preciso ter uma flexibilidade maior para o comerciante”, diz Adriana Coato, comerciante em Santa Maria.
“É uma tristeza ver Brasília se tornar uma cidade sem expressão cultural. Nem mesmo na ditadura havia tamanha repressão. Há interesses maiores querendo tirar as áreas comerciais um papel que existe desde que elas foram criadas”, lamenta Engels Espíritos, um dos líderes do Movimento de Valorização dos Músicos (MVM). Sua colega, a comerciante e produtora cultural Juliana Andrade, cobra ações do governo. “O estado tem a obrigação de rever os índices de decibéis permitidos a cada dois anos. O que se vê é uma negligência que já dura sete anos”, opina ao esclarecer que as medidas atuais desaceleram a economia local.

Nova discussão

Hoje, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) vai realizar o workshop “Os impactos do som ao redor”, que apresentará dados relativos aos níveis de conforto acústico no DF. Segundo o levantamento, o isolamento acústico dos imóveis que estão sendo construídos na capital federal garantem o mínimo de conforto contra sons externos.
A pesquisa monitorou 10 canteiros de obras e para a entidade os sistemas construtivos usados como concreto, dry-wall ou cerâmica estão dentro enquadrados na norma de desempenho determinada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Foram analisadas 45 tipos diferentes de sistemas construtivos usados nos empreendimentos.Todas as construções avaliadas garantiram, pelo menos, o nível mínimo”, assegura Dionysio Klavdianos, diretor da entidade.
Para a fonoaudióloga Isabela Carvalho, os ruídos na grandes cidades estão acima do recomendado. “Em alguns locais temos alarmantes 90 decibéis. Nessa intensidade, após quatro horas diárias de exposição, o indivíduo terá sua acuidade auditiva afetada.” Decibéis muito acima do tolerável ocupam hoje o terceiro lugar no ranking de problemas ambientais que mais afetam populações do mundo inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para eles, todo e qualquer som que ultrapasse os 55 dB já pode ser considerado nocivo para a saúde.
CICLISMO 

Google Maps lança ferramenta para bicicleta

Ao clicar o usuário pode definir percursos, calcular trechos, identificar ciclovias, inclinação do terreno e saber o tempo para o traslado.

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA

Quem pedala na capital federal agora pode contar com o auxilio do Google Maps para traçar rotas e se deslocar pela cidade. O aplicativo lançou ontem, a opção "bicicleta". Ao clicar o usuário pode definir percursos, calcular trechos, identificar ciclovias, inclinação do terreno e saber o tempo para o traslado. Isso significa que a bicicleta aparece ao lado do pedestre, do carro e do transporte público entre as opções para ir de um ponto a outro. 

O Google Maps (disponível para Android e iOS) é o maior e mais popular mapa do mundo atualmente, acessado por mais de um bilhão de pessoas por mês. 

*Com informação de Google Maps Brasil. 

SAÚDE

Leptospirose tem maior alta dos últimos sete anos

Até junho, cinco pessoas morreram contaminadas com a doença no Distrito Federal em 21 casos registrados. Em todo ano passado, houve 17 infecções e cinco óbitos. Secretaria de Saúde atribui aumento a condições precárias de higiene.

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA

O Distrito Federal passa pelo momento de maior contaminação por leptospirose proporcional para os seis primeiros meses do ano desde 2007, a alta foi confirmada pela Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS). Até a quarta semana de junho, foram 21 casos confirmados e cinco mortes. Um paciente aguarda resultados de exames para constatar a doença. Entre as cidades líderes de contágio estão Ceilândia com cinco caos e Recanto das Emas com três. A maior via de transmissão é a urina do rato, mas o contato com a água ou alimentos contaminados também são nocivos. Com base em números da Organização Mundial da Saúde (OMS), a autarquia estima que na capital federal a população desses roedores chegue a 15 milhões, neste cálculo, são cinco para cada habitante. As áreas com maior infestação do bicho são o Setor Comercial Sul, o perímetro da Rodoviária e o centro da Ceilândia.

O perfil clássico de septicemia atinge principalmente homens com idade média de aproximadamente 35 anos. No DF, 73% dos contaminados pertencem a esse grupo. Das contaminações 65% foram em área urbana, desses 50% no próprio domicílio. A estatística acende o sinal vermelho para a higiene dos brasilienses. “Não é possível agentes de saúde estarem presentes em todos lugares, por isso a participação das pessoas é essencial. Acondicionar o lixo corretamente, manter quintais limpos, evitar o contato com água de chuva e se proteger ao desempenhar atividades como limpeza de fossas e caixas de esgoto são ações simples, mas que protegem o indivíduo e todo o coletivo”, garante o diretor de Vigilância de Animais Sinantrópicos e Silvestres da SVS, Ivanildo de Oliveira Correia Santos. Na bactéria resistem no meio ambiente por cerca de seis meses e penetram pela pele e mucosas.

Na fase inicial, a leptospirose pode ser confundida com outras patologias como dengue, gripe, malária, hepatite, por que os sintomas são parecidos. Para dar mais agilidade a detecção e ao tratamento a pasta estuda a possibilidade de capacitar profissionais da saúde a fim acelerar a constatação da doença. A medida seria em parceria com o Ministério da Saúde, mas ainda não tem data para de fato ser concretizada. “Seria mais uma forma de garantir o controle da doença e o tratamento correto. Quando uma pessoa se contamina, outras estão em risco, com todo o processo mais ágil, teríamos melhores condições de domínio da doença”, explica Rosa Maria.

Segundo o Ministério da Saúde, a leptospirose é uma doença endêmica (constante), principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, devido às enchentes associadas à aglomeração populacional, às condições inadequadas de saneamento e à alta infestação de roedores. A letalidade no Brasil é de 9% no Brasil, não há estatísticas regionais para o DF. Apesar do panorama a expectativa da Subsecretaria de Vigilância à Saúde é que o número de casos caiam nos próximos meses. “Com a seca a tendência é que menos pessoas sejam infectadas. Pois não há alagamentos e os ratos tendem a permanecerem na rede subterrânea”, afirma Ivanildo de Oliveira. Os meses que mais apresentaram casos foram maio co m cinco notificações e abril com seis.
OPINIÃO

Rollemberg em busca de pauta positiva

>> OTÁVIO AUGUSTO SILVA

Ontem, o lançamento do selo "made in Brasília" foi mais uma clara tentativa do Executivo local de associar o governo a algo positivo. A marca será colocada em produtos oriundos da capital federal. Se por um lado o "bairrismo" amina figuras do setor produtivo, por outro escancara a defasagem industrial do DF. Nosso quadradinho não é capaz de atrair grandes empresas tampouco, mantê-las em solo brasiliense. Problemas como fornecimento de água, energia elétrica e dificuldades burocráticas afastam industrias. A prática de mercado neoliberal traz conceitos mais justos de competitividade, a intenção do governo e da Fibra é, trocando em miúdos, dificultar a entrada de produtos de Goiás, por exemplo. Uma clara medida protecionista. Ruim para o consumidor, péssimo para industrias.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

GDF

Hélio Doyle: pediu para sair

Quem assume Casa Civil é  o diretor-geral da Câmara dos Deputados, Sérgio Sampaio.

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA

O secretário da Casa Civil, Hélio Doyle, deixou nesta quarta-feira (10/6) o governo de Rodrigo Rollemberg. Segundo o jornalista, ele virou alvo de críticas por parte dos distritais e até de um senador, cujo nome não citou. Doyle fez o anúncio em coletiva de imprensa e afirmou já ter informado ao governador. Rollemberg comentou a decisão com pesar e disse estar sabendo da saíde há duas semanas.

Quem a vaga na Casa Civil é  o diretor-geral da Câmara dos Deputados, Sérgio Sampaio. Advogado, Sampaio é servidor concursado da Câmara desde os 21 anos e voltou à Diretoria Geral da Casa em 2013.
TRANSPORTE

Acaba greve dos rodoviários, mas serviço mesmo só nesta quinta-feira

Cerca de 1,2 milhão de brasilienses ficaram sem ônibus na capital federal. Empresas aumentaram em 10% o salário dos trabalhadores e em 11% o tíquete-alimentação.

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA

Após três dias de greve por aumento de salário, os rodoviários da capital voltaram a trabalhar na noite dessa quarta-feira (10/6). Mesmo com o fim do movimento, por volta das 21h nem metade da frota estava nas ruas, segundo o Sindicato dos Rodoviários. Durante a paralizaão cerca de 1,2 milhão de basilienses ficaram sem transporte público.

O Governo do DF participou das negociações e as empresas aumentaram em 10% o salário dos trabalhadores e em 11% o tíquete-alimentação e cesta básica, proposto pelos rodoviários. A nova proposta só foi possível após o GDF aumentar o subsídio das empresas que, atualmente é de R$ 40 milhões, para R$ 43,5 milhões.

SAÚDE

Superbactéria na mira da justiça

Ontem , o subsecretário de atenção à saúde, Tadeu Palmieri, e a infectologista­chefe do GDF, Maria de Lourdes Lopes prestaram esclarecimentos ao MPDFT. Na segunda, Câmara Legislativa irá sabatinar o secretário de Saúde, João Batista de Sousa

>>OTÁVIO AUGUSTO SILVA 

A endemia de superbactérias nos hospitais da rede pública é investigada pela Promotoria de Defesa da Saúde (Prosus) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.  Ontem, o subsecretário de atenção à saúde, José Tadeu Palmieri, e a infectologista­chefe do GDF, Maria de Lourdes Lopes prestaram depoimento ao promotor Jairo Bisol. Segundo o promotor, os  representantes do governo local apresentaram novos documentos, mas descartaram a possibilidade de surto. "Não vamos baixar a guarda. Estamos apenas no início das investigações", garantiu Bisol.


Na próxima segunda, a Câmara Legislativa vai sabatinar o secretário de Saúde, João Batista de Sousa. A Casa quer informações, sobretudo números, da atual situação da crise. Ontem, foi criada a pedido do deputado Ricardo Vale (PT) uma comissão especial para acompanhar as ações do GDF referentes à saúde pública. O grupo fiscalizador será formado por outros quatro parlamentares, além do petista: Reginaldo Veras (PDT), Rodrigo Delmasso (PTN), Juarezão (PRTB) e Welligton Luiz (PMDB). “Precisamos entender o que está acontecendo. O Estado parece não dar conta de gerir a saúde pública. Não está claro quantos casos são, o que está sendo feito e o porque desse quadro. Falta gestão”, argumenta Ricardo.